Não há nada igual a King Crimson, é o que devo afirmar. Acho que não há imitadores, seguidores ou desafiadores. A banda, que atualmente mantém os tempos clássicos apenas o líder Fripp, se firmou como um dos grupos mais importantes (e esquisitos) da história do Rock e reina solitária no feudo que ela ajudou a criar, desenvolver e no qual tomou um rumo próprio, não trilhado por mais ninguém.
Começaram tão badalados lá no ano de 1969, mas já diferentes. Ao invés das intensas maratonas rococós-clássicas dos grupos de progressivo, silêncio … e jazz. Improvisações em escalas cromáticas, duelos improváveis entre guitarras e saxofone, poesia intimista e/ou crítica de um membro apenas letrista, Pete Sinfield, e um melotron usado de forma econômica harmonicamente ao mesmo tempo que insistente. Na capa, uma obra prima: expressionismo sideral! Da ira na capa à conciliação no interior, a capa do primeiro álbum marcou época é uma das mais originais e lembradas em pesquisas de melhores frentes de álbuns.
A voz grave e sedutora de um jovem Greg Lake convida o ouvinte a longas viagens pelo interior da mente. Imagens da vida esquizofrênica do homem contemporâneo precedem calmamente a leve sensação de conversar com o vento. Jovens filhas da lua chegam à corte do rei escarlate que é cantada e decantada em uma longa suíte erudita. De cair o queixo e inesquecível. E da vontade de ouvir de novo e de novo, e de tempos em tempos é sempre bom relembrar.
Essas canções, "Twenty-first Century Schizoid Man" e "I Talk to The Wind", são muito marcantes e uma se opões à outra. A primeira nos presenteia com um número típico, grave, em tom menor, a voz distorcida, melodia quase falada, "...neurocirurgiões clamam por mais na porta venenosa na paranoia, homem esquizofrênico do século vinte e um...", e é assim mesmo! Era o futuro pessimista da peste e da loucura! Que começo marcante. A longa sequência instrumental com os duelos entre sax e guitarra não têm paralelo na hostória do rock, E tão alto, tão berrante, tão revolucionariamente diferente e bizarro.
A segunda, em contraste é poesia soft pura, vocal suave, a flauta predominando, faixa FM!
O Disco segue com um tema prog clássico em partes chamado "Epitaph". Aqui o melotron do Fripp se esbalda com belas texturas e a voz do Greg Lake mostra muita dinâmica entre as partes mais reflexivas. É um tema sem pressa, triste, afinal é um epitáfio em tom menor.
No lado B temos dois temas exuberantes em que o Rei Escarlate prova sua capacidade de surpreender. Um tema típico de Crimson. A voz desaparece depois do enunciado da letra de "Moonchild" ("Filha da Lua" é o título da canção) e a guitarra, a percussão, um piano elétrico e o sax soprano exploram as possibilidades do tempo em uma dinâmica de som baixo, meio silêncio, como um som ambiente. De uma certa forma vai por uma caminho similar àquelas longas viagens ao vivo do Pink Floyd com improvisação e muito ácido. é um tema sutil como uma névoa em noite de lua cheia.
O grandioso final é outro tema em tom menor em que os versos de Sinfield descrevem a corte do rei. São longos versos de 12 sílabas de três em três em cada estrofe que terminam sempre com "In The Court Of The Crimson King ...", o último "iiiing" se estendendo até virar uma vogal mais aberta como "ããã". e o tema segue, em um crescendo em cada final de estrofe. Tudo é muito belo, sempre a voz, o melotron e os backings finalizando as estrofes com muito impacto e dinâmica. Tem um solo de flauta e algum silêncio (outra característica risoniana). Um final perfeito para um disco perfeito que muitos consideram que o grupo jamais foi capaz de superar.
Não é fácil de ouvir. Um estilo mesmo “coçante” da mente não pode ser algo fácil, pois eis aí uma das fronteiras a sem desbravadas pela ciência, nossa cuca. Não há limites para as sensações que se pode provocar ouvindo a música do King Crimson, para bem e, eventualmente pra o desconforto. Sim, porque antes de produzir algo simplesmente palatável, o que Bob Fripp e sua turma sempre quiseram mesmo foi incomodar um pouco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário