Certo dia eles se encontraram e começaram a ensaiar. Na praia, pra suprir a demanda de grupos que tocassem Rock, coisa rara na época do início dos pagodes, funks, dance music e sertanejos na moda e outras oitentices decadentes. O bagulho era tocar Rock’n Roll e eles capricharam: Beatles, Rolling Stones, The Who, Eric Clapton. O Bar que queria os shows, lotara no ano anterior, 1991. Agora junto com a banda Ceres, integrada por Carlo Pianta e Biba Meira, remanescentes do De Falla, eles iriam incendiar as noites do Imbé, no Brodonhoca’s, que superbombou de novo em 92.
Três belas semanas de puro descanço e Rock’n Roll em Imbé City, morando na casa dos Irmãos Metz, Ângelo (Guitarra e Vocal) e Lorenzo (Bateria). Homero Luz (vocal) e Lawrence David (baixo e vocal) se lançavam na mais incerta e imprevisível jornada musical que um grupo de Rock, empreenderia no cenário de Porto Alegre até então.
Homero foi vocalista da Anos Blues, banda inovadora no cenário portoalegrense fazendo Rythm’n Blues no estilo Chicago. Lawrence integrou a Ópera Bufa e era músico de baile, enquanto Ângelo fazia faculdade de música e Lorenzo se iniciava na prática da bateria. Eram antes uma turma de amigos que tocavam as músicas de que gostavam.
Improvisavam sempre um repertório alternativo mais comercial. Até pagode, Jorge Benjor e carnaval tocaram. Foram provavelmente um dos primeiros grupos de Porto Alegre a conseguir uma mini-temporada como banda da casa na praia da Ferrugem próxima a Garopaba. No Show de Ano Novo 92-93, contaram com a presença do Robério, baixista do Camisa de Vênus, que veraneava ali desde muito cedo nos anos 80.
Em porto Alegre estrelaram muitas noites no Clube de Jazz, onde contavam com a canja eventual de Ianto Laitano, que formaria a Bilirrubina. Muitos músicos bons da noite viram o show e se encantaram com a performance dinâmica, que oscilava entre climas suaves e pesados, caprichando no virtuosismo instrumental, com todos os músicos cantando em ótimos arranjos vocais. A fama do grupo se espalhou e foram levados para o Da Vinci, bar da 24 de Outubro que abria, na onda do renascimento do Rock em 1992, impulsionada pelo fenômeno Nirvana, que, aliás, estava sempre no repertório dos Cabeludos.
A Apresentação, já com Lawrence tocando Fretless foi espetacular, deixaram todos boquiabertos e o dono de um estúdio onde a Pura Sangre ensaiava (banda que misturava TNT e Cascavelletes e teria o vocal de Homero) lhes deu o estúdio livre para que fizessem um repertório próprio. Com tudo na mão, aí estavam felizes. Uns dois dias depois, durante o que seria o primeiro encontro para preparar um disco, Ângelo e Lawrence se desentenderam por causa de uma bobagem em um arranjo de uma música – que não era grande coisa – que estavam fazendo. Ângelo deixou o estúdio dizendo que aquilo jamais daria certo, e foi o fim.
Eles até voltariam a se apresentar outras vezes, e até voltaram a trabalhar juntos em outros projetos, mas a chama cabeluda nunca mais voltou a brilhar.
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