Todo ano tem aqueles disquinhos especiais originais daqueles artistas
acima da média que acabam entrando pra nossa discoteca ou playlist
pra sempre. O Programa Rock Night escolheu aqui apenas alguns,
é claro. Todo mundo tem seus preferidos. Essa é apenas uma possível
lista, levando em consideração obras que foram veiculadas no
programa ao longo do ano e que entraram no Top 40 lá no final de
2020. Então, vejamos.
AC-DC – Power Up – A há!
Começando a lista com mais do mesmo! É que é em ordem alfabética
… Mas não é bem assim, o grupo nunca tinha gravado essas músicas
que ficaram engavetadas e são creditadas, todas, a Malcolm e Angus
Young. A formação é a mais original possível. Então, levanta o
volume e escancara no hard rock perfeito de um dos maiores sons do
planeta. O single Shot in
The Dark não
deixa pedra sobre pedra. Realize
e Kick When You’re
Down
não ficam atrás.

Al Di Meola – Across The Universe – Sim,
é um disco de covers, e instrumentais. Mas as canções são as dos
Beatles e o guitarrista está inspirado aqui. Ele criou versões
muito próprias, ainda que algumas tenham semelhanças com outras
conhecidas. Tocando violão e num clima acústico, esse músico de
Nova Jersey e manjadão pra quem gosta de jazzrock,
esbanja
categoria e sutileza em Here
Comes The Sun que
abre a bolacha, a linda releitura de Strawberry
Fields Forever (em
que ele se utiliza do melotron no começo também)
e
a sutil e bela Julia
entre
outras delícias.

Black Stone Cherry – The Human
Condition –
Esse grupo vem se destacando no Metal Alternativo ao longo dessa
última finda década e nesse álbum demonstram sua perfeita
maturidade em equilibrar som pesado com algum pop. O excelente vocal
de Chris Robertson e as sempre ótimas guitarras atestam que os caras
são algo mais além de caipiras do Kentucky. Destaque para a nervosa
Ringin’ In My
Head que
abre o disco, o trash de Live
This Way
e a balada If My
Heart Had Wings.
Blues Pills – Holy Moly! - Agora chegou a vez do Rock Sueco!
Essa é a pátria da boa música e as garotas cantam nas bandas dos
guris na maior curtição e arrasam. Aqui eles dão um passo além e
flertam definitivamente com o pop engajado como na abertura Proud
Women. O Blues chega em Low
Road que anuncia um disco
pesado, na verdade. O clima hard
segue e ainda há espaço pra boas baladas como California
e Dust.
Bruce Springsteen – Letter To
You – Quem se cansou do
Boss mediano dos últimos álbuns solo vai gostar desse aqui. A
E-Street Band está de
volta e com ela o som clássico de Springsteen. Para o fã, o disco
não é menos que sensacional. Parece que acompanhado dos viejos
amigos as canções do patrão
funcionam melhor. É o que ocorre em House of a Thousand
Guitars e Ghosts.
É claro que a sentimental faixa-título não decepciona nem um
pouco.
Declan McKenna – Zeros – Em
seu segundo álbum, esse piá impressiona pela versatilidade e nível
das composições. Indo muito além do pop palatável, Declan impõe
seu estilo e projeta a música que vem pela frente. O single Be
An Astronaut é
simplesmente soberbo e não se circunscreve em um só padrão. Pode
até ser um Prog
Rock se
olharmos por certo ângulo. You
Better Believe,
a abertura e Daniel,
You’re Still a Child
não são menos impressionantes.
Deep Purple – Whoosh!
- Fala mal do velhinhos, fala! Quem disse que idade significa alguma
coisa no Rock And Roll? Essa bolacha é um petardo do hard
progressivo como quase não existe mais. Os caras estão super em
forma, as passagens instrumentais são ótimas, os solos são afudê,
etc. etc, etc. Os singles são um arraso, Throw My Bones
que abre o álbum e Man
Alive. A voz do Gillan tá
bacana, tem as bem Purplescas como Drop the Weapon
e Step By Step, o
rockão What The What
e um flerte bacana com o pop na bela The Power of The Moon.

Flying Circus – 1968 – A Alemanha eventualmente produz boas bandas de Rock. Esse grupo vem num crescendo nos últimos anos e nos apresentou um disco que traz a memória desse ano marcante da história. Os vocais lembram Geddy Lee do Rush, mas o som vai além do hard progressivo e tem pitadas de pop e também climas típicos de Krautrock, mas sem exageros. A inspiração é Dark Side Of The Moon; é um álbum conceitual baseado no que se passou em algumas cidades que dão nomes às músicas como Paris, New York e Vienna.
Green Day – Father Of All
Motherfuckers – 2020
foi o ano em que Billie Joe Armstrong gravava seu ótimo disco solo
de covers, mas em Fevereiro lançou o álbum que gravou com a banda
em 2019. É Punk Rock? Sim! Mas tem um lado Vintage
impresso na concepção do disco
que o torna muito diferente e interessante. Stab You In The
Heart é pura dinamite, assim
como Fire, Ready, Aim e
tem coisas tipo Hino Greendayano em que I Was a Teenager
Teenager se encaixa muito bem.

Green Seagull – Cloud Cover
– Pense que você está em Los Angeles ou Londres em 1967 ou pouco
depois. Esse é o som dos ingleses do G.S. Pop barroco, psicodélico
com direito a cravos, cítaras, pedais fuzz e
harmonias vocais a la Beach Boys.
Há uma nova cena Neo-Psych
londrina da qual o grupo é expoente. Em seu segundo álbum eles,
mais uma vez, repetem a fórmula que gerou boas críticas para a
bolacha de estreia. Destaque para a bela balada de abertura Aerosol
e a grudenta Dead And Gone.
Eles até se arriscam em contemporaneidade na funkeada Live
in Lover.

Joe Bonamassa – Royal Tea
– O maioral do blues-rock contemporâneo está de volta. Dessa vez
ele gravou no Abbey Road, em
janeiro de 2020, pouco antes da pandemia, no histórico
estúdio onde os Beatles viveram grandes momentos. Acredito que essa
atmosfera nostálgica tenha influenciado na gravação que é bela e
ousada. A começar pela abertura orquestrada e lenta, When
The Door Opens que se qualifica
a clássico do Rock. Ele fez jams com Jools Holland,
Dave Stewart e Bernie
Marsden e saíram várias
parcerias. Destaque para o maravilhoso Blues Rock com muito wah-wah I
Did,t Think She Would Do It, e
Lonely Boy, Rockabilly
com Big Band e eco na voz. Esse músico americano faz mais uma vez o
caminho de girar a roda da história pois o disco é uma homenagem à
British Explosion que
influenciou jovens guitarristas como ele a abraçarem a profissão.

Laura Marling – Song For Our
Daughter – Todo mundo
tem uma voz angelical que gosta de ouvir pra se sentir elevado.
Podemos falar da Sandy Denny ou da Joni Mitchell, mas atualmente tem
a Laura Marling. Flertando com pop, mas essencialmente no universo
índie e folk, essa expressiva cantora fez mais um disco soberbo.
Sempre enfatizando o universo feminino e íntimo, abre com Alessandra
que traz um clima anos 70 bem
cheio de sentimento. Held Down vem
em seguida no mesmo embalo, cheio de belos vocais de apoio. Strange
Girl é uma pouco mais animada e
um tanto dylanesca como
muitas vezes essa cantora soa. No refrão a música se acende com uma voz muito bela e um lindo e preciso apoio vocal.

Lousiana’s Leroux – One Of
These Days – Pode um
grupo voltar à ativa depois de 20 anos e gravar um álbum exemplar?
Esse grupo, que obteve sucesso nos anos 80 e gravou esporadicamente
nos anos 90, fez isso. Sempre abraçando o gênero Southern
Rock, o Le Roux não decepciona
nem um pouco. A começar pela escolha do ótimo vocalista Jeff
McCarty cujo timbre é perfeito pra cantar Rock. Destaque pra
incrível abertura e faixa título One Of These Days que
começa em alto astral embalando com a bela e suplicante balada No
One’s Gonna Love Me (Like The Way You Do) e
Lucy Anna mantendo a
velha tradição de canções com nome de mulher.

Marcus King – El Dorado
– King, um nome novo e brilhante. Em seu primeiro trabalho solo,
luxuosamente produzido por Dan Auerbach, o
cantor e guitarrista se entrega à emoção e foge um pouco à
obviedade do som do sul dos EUA. É visível a tentativa de escapar
dos rótulos. Muito soul e uma voz rasgada, aguda e cheia de feeling,
em um garoto de 23 anos e olhos azuis, realmente impressiona
bastante. As guitarreadas são precisas, marcantes e econômicas. O
time que acompanha é formado por feras, destaque para a sublime
abertura Young Man’s Dream com
uma pitada de country, o blues-rock com riff poderoso The
Well e o flerte com o pop
funkeado em One Day She’s Here.

Morrissey – I Am Not A Dog On A
Chain – Não há como
descartar esse veterano como um grande letrista do Pop/Rock. O
que se destaca aqui é a língua afiada contra aqueles que querem
enquadrá-lo por certas atitudes ou reduzí-lo a rótulos, o que é
brilhante, a começar pela faixa título, Eu não sou um
cachorro numa coleira. A
sonoridade é eletrônica, batidas sintetizadas e tecladinhos, mas
isso não esmaece o vigor do álbum. O clima iconoclástico continua
em Love is On Its Way Out
em que ele procura a falta de amor nas entrelinhas. Darling,
I Hug A Pillow também é outra
boa resposta desaforada àqueles que criticam sua (falta de)
sexualidade.

Rufus Wainwright – Unfollow The
Rules – O compositor
canadense volta a gravar um disco autoral depois de 7 anos, o último
tinha sido Out Of The Game
(2013). Maduro, a começar pelos cabelos e barba, brancos na capa,
ele se apresenta aqui melhor do que nunca. Suas canções brilham com
melodias surpreendentes que transitam ao longo de sua grande extensão
vocal, indo do barítono até os altos falsetes. Destaque para a
marcante abertura Trouble In Paradise,
o sempre vivo auto-cinismo de You Ain’t Big e
a bela valsa Peacefull Afternoon.

Shemekia Copeland – Uncivil War
– Essa multinomeada e vencedora de Grammys é nada mais do que uma
das maiores cantautoras do mundo. Já foi chamada de “a rainha do
blues” e sua voz é cheia de personalidade, madura, infalível e
muito forte. Além disso o álbum é uma aula de como compor canções
inteligentes que falam sobretudo do racismo e do sexismo nos EUA, com
arranjos sofisticados e precisos pra realçar o que importa, as
soberbas interpretações. Sonoramente ela está na área do
Blues/Soul/Americana com pitadas de rock e pop, enfim para agradar a
todos. Gravado em Nashville, traz uma faixa de abertura que já vem
arrasando. Clotilda´s On Fire É sobre
uma mulher que é escravizada num navio. Walk Until I Ride,
Uncivil War e Money Makes You Ugly não
são menos impressionantes. Mas há muito mais, é claro.

Terra Lightfoot – Consider The
Speed – Esse álbum
surpreendente vem de uma artista que, como o título insinua, vive
correndo. Depois de uma turnê mundial para promover seu segundo
álbum, Terra foi pra casa descansar, e mesmo assim não se inspirava
a compor. Então tudo mudou quando resolveu ir a Nashville, sempre
Nashville. Algumas semanas por ali a fizeram escrever canções
íntimas e confessionais, além de elaborar a morte de sua avó. O
resultado é simplesmente um clássico de beleza, autenticidade e,
principalmente, excelente música. Blues Rock de raiz, abre com a
funkeada Called Out Your Name.
Em seguida vem a pop e hipnótica It’s Over Now.
A linda balada Empty House
entra em seguida … que sequência de abertura!

The Struts – Strange Days –
Apesar das crítica medianas, há que se considerar esse como o
melhor álbum do grupo. Os “dias estranhos” da Covid fizeram os
caras gravar dez músicas em dez dias. Cheio de parcerias e
participações especiais e alguns covers, a bolacha é um amálgama
de pop e rock’n roll gravado com honestidade e sem preocupação
com rótulos. A regravação de Strange Days
com Robbie Williams abre bem. É uma bela canção. Do You
Love Me do Kiss é
bem bacana. Mas o destaque vai para a faixa com a participação de
Albert Hammond Jr., um nome solo em ascensão, guitarrista do The
Strokes, que embeleza Another Hit Of Showmanship, um
pop rock berrado, bem ao estilo do grupo.

Wishbone Ash – Coat Of Arms –
Ninguém pode acusar essa banda de não ter-se mantido fiel a seu som
que é um rock pesado, mas com duas guitarras não tão distorcidas.
Essa convicção em um som próprio é que possibilita a essa altura
do campeonato registrar um disco como esse. Já abre com a
convincente e vigorosa We Stand As One
que tem um bom riff. A faixa título vem em seguida. Épica e longa
tem outra boa base de guitarra natural com uma frase que ganha
importância ao longo da música, se metamorfoseando, sempre no duelo
de duas gibsons, que aliás estão no brasão que ostenta a capa (Uma
Les Paul e uma Flying V). Também tem a quase pop Too Cool
For Ac e a bela balada
Déjà-Vu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário