Quem primeiro me levou às cordilheiras de gelo onde a vida crepita, ao abismo onde muitas surpresas aguardam, às ruas onde as pessoas felizes e perfeitas simplesmente compartilham o mundo, a me sentir pequeno diante do cosmo imenso … tudo através da combinação harmoniosíssima dos graves, agudos intensamente vibrantes e mansamente sutis, calmos e impetuosos … foi o YES. Voz de cristal, baixo de trovão, colegas intensos e falastrões, exibicionismo explícito milimetricamente calculado, o YES foi concebido pela dupla Anderson/Squire.
É, poderia ter sido apenas mais um encontro casual no Soho em 1968, de dois rapazes com gostos e sentimentos comuns que gostavam de harmonia vocal. Uma dupla que virou uma coisa só, um casamento. Quem ouvir os primeiros discos solo de ambos, Fish Out of Water e Olias of Sunhillow, vai notar as semelhanças. Os temas se desenvolvem lentamente, como música erudita, sem pressa. As texturas vão se construindo com muito pé no chão pelo lado de Chris Squire (aquele contrabaixo saltitante, denso, pesado e forte) e parecem flutuar com a voz aguda e cristalina de Jon Anderson, leve como uma pluma. Muitos instrumentos, camas de vocais, muitas ideias, sempre “positivas” (daí o nome? Pouco provável pois foi dado pelo primeiro guitarrista, Peter Banks). Quem segura toda essa onda impecavelmente e com muito estilo é o baterista Bill Brufford, que abandonou o grupo para se juntar ao King Crimson em meio a esse período.
O Yes comandou o ritmo e a evolução do progressivo que durou até 1975 e 76. Steve Howe sentava a mão na guitarra, com suas múltiplas influências e a música mais sofisticada conquistava a cabeça dos jovens, fenômeno impulsionado pela expansão do fluxo de consciência do fim dos anos 60. Mas logo foi o fim de uma era. Disco e Punks vão se alastrar. Quem conseguiu resistir, quem se amoldou às novas tendências, sobreviveu. Nos 90, o Rock Progressivo voltou com tudo, pra ficar, como gênero definitivo e importante no Rock, com o surgimento de muitas bandas.
A primeira trilogia espetacular do Yes se efetiva com a entrada de Howe a partir do The Yes Album (1971) que completou seu cinquentenário esse ano. Daí saem as classicíssimas Yours is No Disgrace e I’ve Seen All Good People, essa última uma homenagem a John Lennon, sempre pedida nos shows até hoje.
Depois vem o sensacional Fragile, o disco com a capa do mundinho e avião. O designer gráfico Roger Dean passa a assinar o logo definitivo e a maioria das capas do grupo desde então. Entra o extraordinário Rick Wakeman nos teclados. Abre com a música mais conhecida da banda, Roundabout, um grande sucesso. Mas aí tem também Long Distance Runaround (com um contrabaixo eletrizante) e Heart of The Sunrise (em que Jon canta lindamente).
E vem Close To the Edge. São apenas três composições em quase quarenta minutos. A faixa-título ocupa todo o lado A do vinil. Essa longa suíte tenta captar um clima de Floresta, de eventos naturais ocorrendo, desde o início. É a exploração da sinestesia em que música captura o curso da natureza. O tema principal entra depois de uma longa introdução em que Steve Howe explora as possibilidades da guitarra entre backing-vocais e um sintetizador pulverizado em notas rápidas por Wakeman. Em seguida entra o tema principal Total Mass Retain e seus seguintes como I Get Up, I Get Down. Esses temas se intercalam com dinâmicas diferentes, mas se encaixam perfeitamente, como uma composição erudita. Referência universal, esse tipo de música passou a servir de modelo pra qualquer banda do gênero que quisesse fazer sucesso. E claro, tem a belíssima And You And I e a jazzística e religiosa Siberian Khatru.
Embora haja muitos discos legais do grupo depois desses, nunca chegaram a esse nível em três consecutivos como aqui. E vale conferir também, Tales From Topographic Oceans, Tormato e Going For The One que vieram em seguida.
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