Quem teve na vida a chance de ganhar uma coleção completa dos Beatles aos 13 anos? Devo isso a meu pai. Incentivo da família dá um sabor especial à paixão.
Com uma raquete de frescobol como guitarra improvisada me olhava no espelho imitando o John Lennon. Eu parecia mais o John Lennon (Usava óculos redondos), mas queria ser o Paul McCartney. Em breve ganharia um usado baixo Finch Rickenbaker amarelo, meu primeiro instrumento comprado usado do Ex-baixista do Frutos da Crise, o Dudu. Por tabela, convenci meus melhores amigos Alexandre Farina e Fernando Trein a serem os outros Beatles. Um comprou uma Guitarra SG (Giannini) e o outro uma bateria Gope.
Enquanto isso …
… eu ingressava na escola secundária Infante Dom Henrique e conhecia Carlos, Caio, André e Companhia, colegas que gostavam de música, Em uma tarde de sábado ensolarada lá na Cavalhada, que era o fim do mundo na época, na presença de uma guitarra Supersonic vermelha Giannini, uma órgão eletrônico e um experiente músico, Seu Danilo, (pai do Caio) eu assistia a um ensaio dos “Violeiros Desgarrados”. E eles tocavam Two Of Us e I've Got A Feeling do álbum Let it Be. Eu até cantei junto! Quanta emoção. Estava virando músico. Minha cabeça pirou. A música se tornou uma obsessão e comecei a ouvir um monte de outras coisas. Kiss, Queen, Deep Purple, Yes, Jethro Tull, Rolling Stones …
Minha participação no Ensino Médio, pra minha formação como estudante, foi inexistente, mas, para o aprendizado musical foi ótimo. Conheci a Adriana Calcanhotto e seu irmão Claudio, muito antes dela ser famosa.
Minha Turma de colégio e eu íamos ao Unimúsica na Reitoria da UFRGS, a pé, todas as sextas-feiras e vimos muitos shows de artistas locais de graça, Cheiro de Vida, Raiz de Pedra, Bebeto Alves, Nélson Coelho de Castro, Nei Lisboa, etc. Foram bons tempos de adolescência, os anos 80. Em breve, o Caio desistiria dos Desgarrados por causa de brigas, e formaria uma nova banda, pra tocar somente MPB e Música Gaudéria (é, eu também já bebi disso …), e o nome, esquisito, seria Carreteiro de Charque.
Com formação variável, mas sempre eu de baixista, o grupo fez apresentações no circuito meninodeusense, escolas do bairro (incluindo o Presidente Roosevelt e o Infante Dom Henrique onde cursei os ensinos fundamental e médio, respectivamente). Dividimos o palco com o Canto Terra e com quem mais? Adriana Calcanhoto. Isso mesmo. Saída direto das aulas do Infante, me foi apresentada como uma descoberta da professora Nélia de música. Ela veio até nós e se apresentou cantando Elis e composições próprias, Foi também uma chance de mostrar seu repertório desenvolvido na churrascaria Chama Crioula e no Pub Pecados Mortaes. Chegamos a compartilhar um programa na TVE onde ela fez uma participação especial, afinal, nós éramos mais conhecidos que ela.
Mas minha paixão mesmo era o Rock. Por isso articulei com meus comparsas um grupo que tocasse somente nessa onda. Custou para o seu Fernando Trein teve que comprar uma bateria, que era bem cara. Eu já era um músico experiente (quá,quá) e o Alexandre Farina foi se encarnando na guita e a coisa foi melhorando. Bem no começo, tocávamos com uma caixa de guerra e pratos de banda marcial improvisados como batera. Coisas fáceis claro, Cold Gin do Kiss, e nossa última paixão, O Sabbath …
O nome? Deu Caimbra! Pintamos camisetas e batemos fotos. Na verdade foi só uma foto. Infelizmente, como banda, só restou uma chapa de recuerdo.
Na primeira e única mostra musical do IDH, feita pra romper com os grilhões da ditadura, cantei … “general's gather in the masses ...” Sucesso absoluto. Garotas histéricas, frenesi, fama instantânea na Escola, em nossa quase única apresentação. Ainda faríamos outra na inauguração de um bar na vizinhança. Nos dois anos seguintes comprei um contrabaixo novo, mas acabei parando de tocar por um tempo. Fui trabalhar em loja de discos...
Fernando Trein foi o primeiro a se profissionalizar, comprou a antiga bateria Pearl do Alexandre Fonseca (Cheiro de Vida) e seguiu em frente, tendo aulas com o digníssimo mestre Sílton Tabajara, o Taba, até começar a cursar administração. Hoje é um bem sucedido professor d Marketing da ESPM. O Farina virou jornalista e hoje é assessor parlamentar. Eu e ele ainda acabamos tocando juntos na Hora H durante metade da década de 90.
E a paixão pela música continua, até o fim dos tempos ...
Nenhum comentário:
Postar um comentário