sábado, 1 de maio de 2021

Crônica – In The Begin de Begin

Nunca poderemos deixar de pensar que uma das eras de ouro de nossas existências foi a infância. É aquele período encantado em que todas as memórias nos remetem à nostalgia absoluta. Uma verdade surge pra quem foi feliz como eu e ancora sua memória na música: os 70 foram bons tempos. Não tiveram a magia dos 60 onde tudo convulsionou em revoluções completas ou parciais transformando o mundo, muito pelo contrário. Foram acomodados, moderadamente consumistas e, na América Latina, autoritários. Mas eu era muito criança, até tinha alguma consciência da situação política porque minha mãe era professora e meus pais sempre me deram muitos livros. Meu refúgio maior pra essa realidade que começava a ficar mais difícil para minha geração sempre foi o som.

Fiz meu pai doar uma maravilhosa Eletrola (que tocava até dez lados de Lps contínuos!) porque ela tinha um pequeno defeito. Por desgaste no potenciômetro do volume ela disparava um som alto de vez em quando. Eu levava um susto, era muito pequeno, devia ter uns 3 anos. Os Lps da coleção de minha casa usei como direção de automóvel em minhas brincadeiras – curiosamente nunca aprendi a dirigir – de motorista de táxi! Tal fato fez com que meu pai iniciasse uma coleção de discos nova na próxima vez em que adquiríssemos um som onde iriam aparecer muitas das coisas marcantes que ouvi quando menino.

Em um aniversário do velho, minha mãe sugeriu que comprássemos um novo aparelho. Ela queria fazer uma surpresa porque ele se ressentia de ter dispensado sua eletrola. Me lembro de irmos em uma loja que ficava no Largo do Medeiros, na Rua da Praia, chamada de Casa Victor, onde hoje fica a Livraria Paulinas. Era uma mundo maravilhoso de aparelhos de som como eu nunca tinha visto. Claro, nosso orçamento era bem modesto – parcelado – mas o que vale é a intenção. Precisávamos escolher algo estéreo, “moderno”, conforme as exigências da época, que coubesse em nossa renda. Acabamos escolhendo um portátil estéreo Phillips 603, que funcionava a pilha ou ligado na tomada. Era como uma maleta ocre, uma caixa com alça para transportar facilmente. As caixas acústicas eram destacáveis e serviam de tampa para o prato. Também se separavam uma da outra quando retiradas. Eu sempre achei o som muito agudo, mas aquela foi meu primeiro veículo para onde viajei pelas galáxias sonoras de meu tempo.


Me recordo dos discos de orquestra que meu pai adquiria. Frank Pourcel, Paul Mauriat, Ray Conniff, Billy Vaughn, Ferrante & Taicher (dois pianistas), Mantovani (A Lenda da Montanha de Cristal). Mas também havia os Beatles, Elvis Presley, Elis Regina e muitos discos de Samba, geralmente coletâneas de sucessos da época como Samba Maior, e cantoras de samba como Clara Nunes e Alcione, enfim, bastante ecletismo. Esse foi o meu catecismo de início de vida, doutrina melódica, rítmica e harmônica.

Em seguida, como se eu tivesse me adonado desse universo, passei a adquirir por insistentes pedidos de verbas, coletâneas pop da época – 1976-77-78 – como as da K-Tel – In Concert, Music Express, Dynamite – e , mais adiante, voltada para o astral Disco, a onda que tomou conta do Brasil no fim dos 70 a partir da exibição da Novela Dancin’ Days na Globo em 1978-79, as próprias Trilhas de Novelas. Havia nessa vibe, os álbuns de festa no quarto – ou reunião dançante – com faixas mixadas emendadas para dar conta da falta de um DJ, o Discoteca Papagaio, Hippopótamus Disco Club, Banana Power. Esses discos tinham nomes de discotecas famosas, geralmente de Rio e São Paulo. Toda essa salada de estilos foi influência, além de meu núcleo familiar, de minhas primas, meus amigos, meus colegas de aula.

Não havia preconceito ainda. A MUZAK comercial que ouvíamos, vejo hoje, era inofensiva, porque era música. Tínhamos o Village People, o Boney M. e o Silver Convention, as incríveis Harmony Cats, mas junto tivemos o Revival dos 50 e 60 provocado por novelas de época como Estúpido Cupido. Tínhamos variedade e riqueza. Liberdade auditiva e variedade radiofônica, havia a MPB do Chico e Caetano, Milton e Gonzaguinha que crescemos ouvindo, e mais, tínhamos aula de música na Escola. Trocamos nosso portátil por um Phillips estéreo com grandes caixas acústicas (do qual eu ainda reclamava porque meu sonho era ter um Gradiente, a nova mania da época) e depois, mais adiante, por um 3 em 1 – Stéreo Music Center – de marca Sharp.

Fui parar na banda da escola Presidente Roosevelt. Maria de Lourdes Porto Alegre, avó do cara aquele que ganhou o BBB (Dourado) me ensinou um pouco de piano e escaleta e me colocou lá. As bandas de escolas do bairro Menino Deus, onde cresci, em Porto Alegre, eram todas muito boas, como a nossa e a do colégio Duque de Caxias. No Ensino Médio conheci Adriana Calcanhotto através da professora Nélia da escola Infante Dom Henrique, que a descobriu. Por causa disso (e dos Beatles, claro) aprendi a tocar Violão e contrabaixo. Minha turma ia ao projeto Unimúsica da Reitoria da UFRGS, religiosamente a pé, todas às Sextas-feiras. Adolescemos vendo artistas como Nei Lisboa, Nelson Coelho de Castro e Cheiro de Vida se apresentarem em diversos espaços e se tornarem reconhecidos pela cidade.

Estou contando tudo isso – e haveria muito mais – pra dizer que a juventude de hoje, em termos musicais, está severamente enrascada. A mediocridade ronda a mente das crianças, desde a tenra idade até a maturidade relativa. Expostos a toda sorte de lixo comercial e industrial – parafraseando Renato Russo – eles estão viciados, desorientados e, virtualmente, perdidos. O jabá, em rádio, tomou conta de tudo, tudo mesmo. E as grandes multinacionais – as mesmas que pagaram pra música sair do currículo escolar – deitam e rolam em tempos de verdades absolutas midiáticas e censura velada. Tanta liberdade pra compartilhar conteúdo e os jovens, sinceramente, não sabem o que fazer com isso. O que sobrou pra cultura brasileira são esses pobres repetidores de fórmulas surradas e rasas: sertanejos, pagodeiros e funks.

Nada contra as pessoas que vivem dessa cultura de massa low brow, mas convenhamos, em música, só repetir não é o caminho. Pior, dizer sempre a mesma coisa enche muito o meu saco. Cornice, cornice, cornice. Sofrimento por amor. Violência, vingança, ostentação e ódio desmedido. Que porcaria é essa que estamos dando pras crianças? É realmente normal ver uma pequena de 2 ou 3 anos rebolando “na boquinha da garrafa” e repetindo “mama eu, mama eu, mama eu”? Onde está a música? Aquela riqueza de instrumentos das orquestras de elevador, riqueza de temas dos sambas da periferia do Rio e SP, a revolução dos anos 60, onde estão? Sumiu tudo com o reverberar tilintante das caixas registradoras dos donos dos meios de comunicação e com a acomodação dos pais que trabalham dia e noite “pra dar uma vida melhor” pros seus filhos que abandonaram na frente do computador ou do videogame muitas horas por dia.

Benditos são os espaços que ensinam e educam as crianças e os jovens com música. A música não só desenvolve a musicalidade – e pode parecer redundância – mas também a própria inteligência, autoestima e empatia com outras pessoas. Se a elas for dado pouco ou ou nada, ou ainda, algo pouco criativo, sem qualidade, infelizmente, esse será o espelho com o que ela era se moldará como adulto, e nosso mundo é muito desafiador para quem se espelha na mediocridade.

sábado, 24 de abril de 2021

Crônica – Me and Nei

Anos 80. Eu era adolescente. A adolescência é sempre uma grande emoção e te marca indelevelmente. Comigo não foi diferente. Cheio de sonhos musicais, um dia almejei ser um músico. Cabelo comprido e óculos redondo a la John Lennon, ídolo recém-falecido. Parava na frente do espelho tocando raquete de frescobol, enquanto mimicava as canções dos Beatles.

Pra isso eu tinha que aprender a tocar violão, mas antes o fascínio pelas rodinhas em torno do instrumento. Aqueles que conseguiam tocar várias músicas do repertório em voga da época, foram meus primeiros professores. Nei Lisboa não podia faltar em nenhuma delas. O disco era Pra Viajar no Cosmos Não precisa Gasolina e o ano era 83. Eu ainda demorei quase um ano do lançamento pra ouvir a bolacha, até que a irmã mais velha do amigo de infância comprasse. Mas foi amor a primeira vista.

“Keka qué casá com Zeca …” começa. Eu acho que só fui entender essa letra anos depois, quando comecei a frequentar o Bom Fim, seus bares e festas aqui e ali. É bem isso, a tribo toda em dia de festa. Do título chave a um imaginário oswaldiano onde se comprava de tudo: drugs, affairs e todos os gêneros MPB. Abre com um Jazz Reggae, mas tem marcha, blues, baladas, a maior parte com harmonia rica e ficou bem gravado.

O que eu nem imaginava é que eu conheceria o cara uma década depois por ser amigo dos amigos. Foi assim. Criei uma camaradagem com os caras da Anos Blues, que faziam um trabalho muito bonito trazendo o blues estilo Chicago pra Porto Alegre. Fui fotógrafo deles. Depois até acabei tocando com eles no final de sua existência. O Homero Luz, vocalista, acabou fazendo diversos trabalhos comigo nos anos 90, Os Cabeludos, Los Bucaneros, etc. Acontece que todos os músicos da cidade andavam pela Oswaldo Aranha de quinta a domingo. O Nei vivia ali porque morava perto.

A Anos Blues fazia bastante shows na época, muitos em bares no próprio Bom Fim ou arredores. De uma forma ou outra o Nei viu os caras e adorou. Ficaram amigos e começaram a beber e conversar em grandes mesas, principalmente na Lancheria do Parque, onde se podia juntá-las e fazer um grande rodão de convivas a conversar e beber. O Nei tinha uma música que cedeu pra eles, O Bife, fizeram um arranjo bem bacana com seu naipe de sopros e gravaram. Tocava muito na Ipanema FM, a rádio Rock mais importante da história da cidade.

Isso já era lá por 1992-1993, e eu já era um oswaldero de carteirinha a essas alturas e andava com o povo da Anos Blues e aí, na lancheria conheci Nei Lisboa. Fui algumas vezes nessa época na casa do cara beber e conversar, sempre com o séquito blueseiro à volta. Mas uma noite, talvez cedo demais ou num dia da semana – não sei direito porque eu ia oswaldear muito nessa minha época de músico – encontrei Nei sozinho na lancheria. Ele me chamou pra sentar à mesa com ele e ficamos papeando. Hoje pensando bem, percebo como eu tive dificuldades em interagir com ele. O problema é que eu era muito fã! Tive todos os discos dele – naquela época eu não tinha mais – e sabia muitas músicas de cor. Esse é um dos grandes problemas da idolatria, que hoje vejo com reservas, porém isso não me impediu de curtir os eventos.

Nessa noite talvez tenha acontecido uma das coisas mais incríveis que tive a sorte de presenciar em minha vida na música. Lá no Ap. do Nei, ele disse a uma certa altura, “eu quero te mostrar uma coisa”. Me levou pra uma ante sala onde estava seu computador e seu violão Takamine – eu nunca tinha visto um de perto, eles eram raros e caros nessa época – “quero que me digas se tu achas minhas novas músicas boas” e então ele tocou praticamente inteiro o disco que viria a se tornar Amém.

Com forte influência do Candombe Uruguaio, Nei recuperava seu trabalho autoral em 1993. Tendo vivido naquele país durante uma boa temporada, ainda trouxe na bagagem o amigo e grande tecladista Mauricio Trobo e uma admiração por Rubén Rada, ícone nacional, citado literalmente em Amarycá, primeira música que ele tocou pra mim (e a que viria a abrir o disco), que me deu nó na garganta de tão boa. Era uma paixão latino-américa que despontava e ele me disse “quero botar percussão e umas backing vocais também”. Não deu outra, é um disco suingado, com um time de músicos incríveis, participações especiais e gravado ao vivo no Teatro São Pedro.

É um álbum alegre, diverso e bonito do início ao fim, e eu fiquei ali ouvindo em primeira mão, com as concepções dos arranjos embutidas na batida do violão que o cara sempre tocou muito bem. Absolutamente lindo. Eu tinha também lido o livro que ele escreveu, acho que se passa inclusive no Uruguai, “Um Morto Pula a Janela”, com prefácio do grande Luís Fernando Veríssimo. Aliás tenho uma história curiosa sobre esse, certo amigo meu, apaixonado por literatura soube que eu tinha o livro, me telefonou e disse que estava vindo buscá-lo em minha casa. Ele me disse, “eu sei que esse livro é bom, e eu não vou te devolver, tá?”. Comecei a rir e não consegui dizer não pra ele.

Tempos e passou e eu não vi mais tanto o Nei. Como eu era músico, geralmente, durante a semana eu estava em casa à tarde. Não existia celular, mas apenas as famosas extensões do mesmo número em um domicílio. O telefone toca, minha mãe bate na porta do quarto, e já sabendo que eu conhecia o músico, me disse, “é o Nei Lisboa”, e eu, “o quê, o Nei Lisboa me ligando?”, “alô, quem é?”, “é o Nei”, “Nei, é tu mesmo cara?” “Sou eu”, sem se abalar com a minha incredulidade, diz, “eu soube que tu tem uma coleção de vigu imbatível”, e eu tinha mesmo. Pra quem não sabe, VIGU é uma abreviatura de Violão e Guitarra, umas revistinhas tamanho gibi que tinham as letras com as cifras das músicas. Era como a gente tirava músicas até surgir a internet e seus milhões de sites com esse conteúdo. Mas nos anos 90, ou tu ouvia e tentava copiar, ou apelava pra vigu, bem mais fácil.

“Eu estou montando um show com músicas de outros artistas, que me influenciaram e queria algumas (revistas) emprestadas”, “claro, cara, sem problemas, tu vem aí?”, “sim, to indo, daqui a pouco to aí”. E lá vem o Nei Lisboa dobrando a esquina da Gumercindo Saraiva com a Barbedo. Acho que minha mãe deve ter dito algo tipo “Boa tarde seu Nei Lisboa, seja bem vindo à nossa humilde casa”. Muito tímido, ele foi comigo até meu quarto, entreguei-lhe o masso de revistas que guardo até hoje. Ele olhou todas, foleou algumas e levou mais as de repertório internacional, incluindo uma só dos Beatles. “Depois eu te devolvo, ok?, e devolveu, não me lembro como, talvez tenha me levado na Oswaldo, e eu, “não tem pressa ok, me devolve quando quiser”.

Algumas dessas canções acabaram no álbum “Nei Lisboa Hi-Fi”, e para a temporada, ganhei dois ingressos para assistir, por minha contribuição. Até hoje é um dos que eu gosto mais e, ao contrário do anterior, é um acústico, despojado, só ele e Paulo Supekóvia nos violões. Tem um sonzão maravilhoso e canções clássicas como Bennie & The Jets, do Elton John, Summer Breeze dos Seals & Crofts e Norwegian Wood dos Fab Four, que, quem sabe tenham sido tiradas das minhas célebres vigus.

Depois disso só o vi em shows por aí. Ele saiu da Oswaldo e não pintou mais nos arredores. Eu casei e também sumi. Mas Porto Alegre é bem pequena e provinciana e os encontros são sempre possíveis aqui e ali, ou talvez, quem sabe, na Oswaldo.

sábado, 10 de abril de 2021

Especial – 35 Bons Álbuns de 2016

Alicia Keys – “Here” Os talentos dessa musicista estão acima de qualquer suspeita e esse álbum não se diferencia dos anteriores. É bom igual. Com sempre, ela se destaca pela ousadia em tentar explorar terrenos que não são os seus, e o faz com grande qualidade artística. Holy War é uma canção em 6/8 capaz de arrebatar os corações mais gelados.

Ana Popovic – “Trilogy” Uma maratona em três estilos: Jazz, Soul e Blues. Exalando destreza como cantora e guitarrista, nascida na Sérvia, Ana é um dos grandes talentos de sua geração de cantautoras/instrumentistas. Super recomendado.

Anderson & Stolt – “The Invention Of Knowledge” – Esses dois cavalheiros são ilustres trabalhadores do progressivo e, mesmo depois de sua enorme contribuição reconhecida, se unem para formar uma obra de beleza ímpar. Relaxe, abra sua mente e se maravilhe.

Bent Van Looy – “Pyjama Days” – Esse Belga surpreendeu por fazer um bom Power Pop, como nem sempre costumamos ouvir. Destaque pra faixa My Escape.

Birth Control – “Here And Now” – Essa veterana banda alemã Rock Progressivo continua fazendo um som como pouco se vê hoje em dia. E ainda incorrem ao fusion para apimentar a receita.

Blackberry Smoke – “Like An Arrow” – A maior revelação do Southern Rock da década não faz feio em seu novo álbum. Excelentes vocais, grandes guitarras, arranjos despojados e muita sensibilidade classificam a BS como um dos melhores grupos do mundo.

Bonnie Raitt – “Dig In Deep” – Essa senhora não faz menos que arrasar em mais esse álbum. Grande rainha do Country Rock, não deixa a menor dúvida sobre quem ainda manda no pedaço.

Cirrus Bay – “Places Unseen” – A voz de Anisha Gillham é de uma pureza indescritível e o efeito ainda é melhor pelos belos arranjos acústicos e os instrumentistas competentes.

David Bowie – “Black Star” – O clima sombrio espelha a alma de Bowie próxima à sua morte. Mais uma vez o artista se transforma em sua própria vida. Anti-pop consciente e arriscado, BS encerrou com dignidade essa epopeia que foi David Jones.

Charles Bradley – “Changes” – Esse veterano Soulman brilha com toda força nesse álbum cheio de sentimentos e emoções intensas. A versão de Changes deixa o Ozzy no chinelo.

David Crosby – “Lighthouse” – LAÇO total do início ao fim, clássico absoluto dessa temporada e os velhinhos do rock seguem dando show de competência. Talvez uma das melhores coisas solo que esse artista produziu. Cantando como nunca, com arranjos simplérrimos ele ainda impressiona por suas interpretações precisas.

Doyle Bramhal II – “Rich Man” – Esse músico de qualidade e talento incomparáveis não tem pressa em sua carreira solo e devemos estar atentos. Delicie-se lentamente, ouça várias vezes esse roquenrol brilhante que vai do agressivo suingado ao épico, às vezes em uma só canção. Destaque para a solene My People.

Defalla – “Monstro” – Mais um final altamente honroso pra essa banda gaúcha que já foi de tudo na vida. Não menos competentes que sempre, eles dão (mais) uma demonstração definitiva de perenidade. Esperamos por um New Mix que dê mais brilho às pérolas que a banda jorrou aqui.

DeWolff – “Roux-Ga-Roux” – Um clima de cabaret ou butiquim aí pelos anos ... muita conversa, elocubrações sobre o destino e outras maldições e muita psicodelia fazem parte do misterioso e instigante novo álbum desse trio pra lá de excêntrico de holandeses.

Dinosaur Jr – “A Glimpse Of What Yer Not” – Remanescentes do Grunge, esses senhores da costa leste são legítimos representantes do Rock Alternativo. Nesse álbum, fieis às suas raízes, eles ainda produzem pérolas como Be A Part.

Drive-By Truckers – “American Band” – Dá pra imaginar uma banda mais honesta de Country Rock do que essa? Atualmente não. Alternativos, Dylanescos e descontraídos, ao mesmo tempo, eles cativam o ouvinte com suas histórias tragicômicas e uma boa pegada de rock.

Esperanza Spalding – “Emily's D+Evolution” – Pra quem nunca ouviu essa contrabaixista, cantora e arranjadora de Portland, a moça é supertalentosa e produz um mix fascinante de Rock, Soul e Pop com uma base jazzística. Esse é um disco brilhante, tanto quanto os outros de sua carreira.

Flying Circus – “Starlight Clearling” – Esses alemães integram a boa ala de bandas progressivas do país, e dão um tratamento Heavy à sua estética. O vocalista lembra um pouco o Geddy Lee, mas não deixe se abater por isso e ouça o álbum inteiro por sua elevada qualidade musical.

Hartmann – “Shadows And Silhouettes” – Uau, aqui outro alemão com ampla experiência, multi-instrumentista e arranjador, detonando em um álbum de Pop Rock Blues pra norte-americano nenhum botar defeito.

Iggy Pop – “Post Pop Depression” – Sem dúvida, um dos grandes clássicos dessa década. Com uma banda que coassina o álbum, Iggy poucas vezes esteve tão bem em sua carreira solo. Utilizando como força motriz o Queens Of Stone Age e o Arctic Monkeys, e lembrando muito Bowie, esse senhor detona Roquenrol como poucos por aí. Laço! Destaque para as ótimas Break Into Your Heart e Gardenia.

Jake Bugg – “On My One” – Uma das grandes promessas do Rock não decepciona nesse terceiro álbum solo feito quase que totalmente por ele mesmo. Ignore as críticas e aprecie mais esse clássico produzido por esse talentoso e único rapaz britânico.

Joe Bonamassa – “Blues Of Desperation” – Falar das qualidades de Joe Bonamassa como cantor e compositor, mas, principalmente como guitarrista, é chover no molhado. Aqui, ele está particularmente inspirado.

Kansas – “The Prelude Implicit” – Esses veteranos não decepcionam em sua volta. Pra quem gosta de um progressivo com uma pitada de Pop, o Kansas sempre foi e sempre será um dos melhores. Eles mostram toda sua competência em faixas como a de abertura With This Heart.

Layla Zoe – “Breaking Free” – Essa canadense de cabelo cor de fogo e voz rasgada manda muito bem nesse novo álbum. Com uma superbanda por trás, ela imortaliza canções originais e covers como Wild Horses, dos Stones.

Leonard Cohen – “You Want It Darker” – Nesse último álbum, esse poeta, compositor e cantor canadense deixa a vida com muita dignidade e difícil de ser alcançado. Nada se compara a seu estilo sussurado-poético-confessional e profundo no Rock dos dias de hoje.

Neil Young & Promise of The Real – “Earth” – O veterano Young se juntou a esses garotos californianos pra produzir essa obra prima que é Earth, um dos álbums mais marcantes desse ano. Não só pelas temáticas bem atuais e engajadas politicamente, mas também pela perfeita integração das canções antigas do cantor com o material original, tudo tocado com a garra que o bom e velho Rock’n Roll exige.

Nick Cave & The Bad Seeds – “Skeleton Tree” – A dor da perda de um filho pode fazer um cantor já um tanto triste chegar aos limites do desespero. Com fiapos de arranjos eletrônicos, Nick destila sua amargura publicamente como poucos ousam fazer.

Red Hot Chili Peppers – “The Getaway” – Finalmente o novo álbum dos queridinhos da América chegou e veio com tudo. Não resta dúvida sobre quem é maior banda do Planeta. Em absoluta perfeição e equilíbrio estilístico, eles fincam o pé no Funk Rock, apostando no pop e na diversificação. Sensacional.

Rival Sons – “Hollow Bones” – O quinto álbum desses californianos é o mais arrasa quarteirão possível. Chegaram pra marcar presença no panteão do novo Rock. Trilhando o caminho do Hard Psicodélico, com muita garra, eles mostram canções inspiradas. Baby Boy é um daqueles Hinos do Rock.

Steve Vai – “Modern Primitive” – Discaço! Àqueles que não curtem guitarristas do tipo virtuose, esse não é um simples caso. Steve extrapola os limites de instrumentista, arranjando como nunca, seguindo sempre os passos de seu mestre Frank Zappa, produzindo um dos discos mais marcantes do ano. É mais que Rock’n Roll, é música das altas esferas.

The Chris Robinson Brotherhood – “Anyway You Love We Know How You Feel” e “If You Lived Here You Would Home Now” – Pós Black Crowes, Chris já havia dado vazão a seu projeto, a Irmandade. Finalmente ele parece ter encontrado seu caminho, lançando não um, mais dois excelentes álbuns, onde deixa a psicodelia de lado e faz algo mais enxuto e objetivo.

The Claypool Lennon Delirium – “Monolith of Phobos” – Duas mentes roqueiras nada ortodoxas articularam essa pequena obra-prima, de audição impregnada de imprevisibilidade, seguindo a trilha de Syd Barret. Estranho e empolgante até o talo.

The Temperance Movement – “White Bear” – Phil Campbell, o vocalista escocês canta pra caramba nesse segundo e maravilhoso álbum da banda Britânica. O grupo aparece como uma dos melhores do Rock atual. Canções como a faixa título e Oh Lorraine são clássicos indiscutíveis.

Wolfmother – “Victorious” – As mães de lobo dão porrada na zoreia do início ao fim. Esqueça que no vocal parece o Ozzy e aprecie esse criativo grupo australiano que traz força e vida ao Hard Rock.

domingo, 28 de março de 2021

Especial - 20 bons álbuns de 2015

Alabama Shakes – “Sound And Colour” – quando esse grupo surgiu, quatro anos antes, arrebatou crítica e público com seu Rock-Soul-Índie cheio de balanço, além de uma cantora original. Nesse segundo trabalho, eles foram além. O que foi produzido é algo original, relativamente difícil, mas bastante intenso. Britany e sua troupe, psicodelizaram tudo, dando climas estranhíssimos para algumas canções e ainda produziram um single palatável de grande beleza e sucesso, I Don’t Wanna Fight.

Blackberry Smoke – “Holding All The Roses”- nesse ano, esse grupo foi a grande sensação do Southern Rock e fizeram uma grande turnê com o Lynard Skynard. Ótimo vocal, guitarras afiadas, com pegada de hard rock e lindas sessões acústicas além de um pouco de country e blues. Difícil dizer o que é melhor nesse disco, é tudo muito bom. Minhas prediletas são Let Me Help You Find The Door e Fire In The Hole. Muitíssimo legal.

Chris Cornell – “Higher Truth – além de ter participado do Soundgarden e do Audioslave o cara agora explodiu em uma carreira individual muy digna. Esse é simplesmente o melhor álbum solo dele. As canções são uma porrada, emocionantes, e Nearly Forgot My Broken Heart é sensacional.

Colin Hay – “Next Year People” – o veterano escocês continua compondo como poucos. O Men at Work, grupo radicado na Austrália, que ele ajudou a fundar nos anos 80, ainda é lembrado até hoje por grandes canções. No seu álbum desse ano o cara não decepciona. Além Da leveza do instrumental há músicas fantásticas como Scattered in The Sand e a incrível Lived in Vain.

Dweezil Zappa – “Via Zammata” – opa, esse é um azarão. Coloquei nessa lista porque sendo zappamaníaco eu ouso dizer que esse é o trabalho que eu esperava ouvir há muito tempo. É a coisa mais madura que um descendente do Frank podia fazer. Dweezil tá cantando, compondo e arranjando como nunca, as canções são espertas, irônicas e esquisitas como as do paizão. Foi uma grande alegria ouvi-lo nesse álbum.

Faith No More – “Sol Invictus” – não dá pra dizer que é o melhor disco deles, mas também não é o pior. Ele não decepciona porque a banda sempre foi meio indefinível e aqui eles mantém a pegada na faixa título ou em canções como Sunny Side Up, por exemplo. Apesar de um pouco enferrujados ao vivo eles têm importância por soarem sempre diferentes. É um bom álbum.

James Taylor – “Before This World” – Esse veterano do country-folk-rock fez um de seus álbuns mais bonitos de tempos recentes. Com instrumentação, arranjos e vocais precisos e irretocáveis, o disco nos emociona mais e mais a cada faixa. Adoro Today, today, today e a comovente Angels of Fenway. Esse é um play memorável e deve ser saboreado vagarosamente. Também chegou aos primeiros lugares das paradas merecidamente. Discaço.

Joe Bonamassa – “Muddy Wolf At Red Rocks” – Há muito tempo que Joe Bonamassa já um dos grandes guitarristas de Blues/Rock em atividade, mas sua raiz mesmo é o Blues, que ele toca de forma soberba e virtuosa, eletrificado ou acústico. Esse é apenas mais um trabalho ótimo, misturando canções de dois dos nomes mais importantes do Rithm’n Blues de todos os tempos. O álbum chegou aos primeiros lugares da Bilboard. Deve ser porque além de ele cantar tri bem e com muito feeling, quando mete a mão na guitarra ... uh, é um furacão, e transforma o astral em algo absolutamente sensacional.

Karina Buhr –“Selvática” – esse foi um dos melhores discos de rock nacional desse ano. Essa menina lá do nordeste é realmente criativa, ousada, e defende um ponto de vista feminino bem atualizado. O instrumental tem pegada e ela, grande performance.

Lana Del Rey – “Honeymoon” – Muita gente reclama, torce o nariz, acha chata. Tudo besteira, eu acho. Ela é um dos maiores e mais importantes nomes do Rock/Pop da atualidade. Sua forma de colocar a voz, com aquele efeito todo, é ousada. Suas canções são densas, profundas e inquestionavelmente fáceis de memorizar. Basta ouvir o primeiro single High By The Beach ou a faixa título para se convencer. Ela é dramática, mas canta e compõe bem. Esse é um dos imperdíveis desse ano.

Marcus Miller – “Afodeezia” – É covardia colocar um jazzrock por aqui, mas eu gosto particularmente do MM porque além de tocar contabaixo bagarai, compõe e arranja muito bem, canta legal e diversifica bastante o som de faixa a faixa. Miles Davis ficaria orgulhoso. Muito agradável de se ouvir de cabo a rabo. Serve tanto pra pensar, quanto curtir momentos de virtuosismo ou simplesmente de fundo musical. Usei a canção Highlife como cortina para o programa várias vezes.

Mark Knopfler – “Tracker” – esse é outro veterano e cancheiro. Continua compondo com categoria, canções que, ao mesmo tempo são pop, mas carregam o melhor da tradição do rock e do blues. Beryl, Broken Bones e Skydivers são monolitos que exemplificam muito bem isso.

My Morning Jacket – “The Waterfall”esse grupo, bastante original, apresenta canções épicas com climas e mais climas bem diversos, tudo em uma só canção. Acontece assim com a faixa Believe que tem romantismo, clássico e progressivo, com algum peso, tudo em uma só peça. Comece ouvindo essa que as outras vão fazendo mais sentido. Bem interessante.

Paul Weller – “Saturns Pattern” – Dispensa apresentações, mas para quem não conhece o cara era a alma de duas bandas incríveis, o The Jam e o Style Council. Esse disco tem tudo o que tinha nesses dois grupos, agressividade punk, atitude, muito soul, elegância e inteligência. A faixa título é o melhor exemplo disso. Esse é um veterano que nunca decepciona. Super bom.

Ringo Starr – “Pictures From Paradise” – nada supera a experiência e, esse disco é uma delícia para beatlemaníacos. Isso define esse que é um dos melhores álbuns de Ringo. A faixa título é hipnótica e composta somente com títulos de canções dos Beatles.. As músicas são diretas, roquenrol sem enrolação. Rory and The Hurricanes, Bridges e Let Love Lead são belíssimas. Quem diria, hein? O patinho feio, killing…

Steve Hackett – “Wolflight” – os trabalhos do ex-guitarristas do Genesis são sempre tocantes. Aqui não é diferente. A profundidade da abordagem de Steve a temas comuns consegue ainda nos surpreender, mesmo usando os velhos recursos do Prog. E qualidade é coisa rara na música hoje em dia. Esse é um álbum belíssimo executado por um artista de alto gabarito em plena forma.

Steven Wilson – “Hand Cannot Erase” – o novo mago do rock progressivo dá adeus ao Porcupine Tree e se atira em uma carreira solo criativa, enquanto também produz outros artistas em estúdio. Todos os grupos tradicionais de prog, mas também de outros estilos, agora correm atrás do toque de midas do cara para remasterizar obras antigas. O Yes, o Gentle Giant, o Jethro Tull, o XTC, entre outros já fizeram isso. Acho que é legal conhecê-lo porque se trata de uma mistura de várias matizes do progressivo. Wilson só trabalha com grandes estrelas e as usa como seus músicos. Bacanérrimo.

The Aristocrats – “Tres Caballeros”Guthrie Govan, um dos guitarristas mais incríveis que já ouvi é um show à parte como sempre. Ele e seus amigos aqui estão no auge da forma e do virtuosismo e aliam tudo isso a bastante criatividade. As músicas são surpreendentes, inusitadas e muito bem executadas. Jazz? Rock? Country? Blues? De tudo um pouco, com sensibilidade e categoria.

The London Souls – “Here Comes the Girls” – Esse humilde grupo de jovens de NY, com inspiração sessentista e britânica fazem um som ducacete. Se tu gostas de Beatles, Stones e Kinks ... vai gostar desses caras, muito afinados, dançantes e barulhentos, tudo ao mesmo tempo. Uma banda pra lembrar o astral das antigas, mas com algo bem original. Fui ouvir sem conhecer e tive uma grande surpresa. Tenhas tu também.

The Tangent – “A Spark in The Aether” – Olha o prog aí de novo. É um álbum empolgante do início ao fim. Como as faixas são longas, os instrumentistas têm que ser criativos e segurar a atenção do ouvinte. A banda vai além disso, emulando astrais surreais e estranhos. Os vocais são bem afinados e as sucessões de climas estão bem de acordo com os admiradores do gênero (como eu), enfim, sem enrolar mais, foi amor à primeira ouvida.

Crônica – In The Begin de Begin

Nunca poderemos deixar de pensar que uma das eras de ouro de nossas existências foi a infância. É aquele período encantado em que todas as m...